Ainda há tempo.

                Hoje, assim como ontem estou aqui, falando de você e acabando com meus dias de delírio eterno, porque o amor doentio que eu sentia se transformou em saudade, apenas isso. Mas assim que sai de casa e escondi as chaves debaixo do jarro de margaridas que você me deu antes de ir embora, que fica do lado esquerdo da porta, a primeira coisa que ouvi foi: “Minha maior paixão são seus cabelos.” E que mesmo que eu me proibisse de virar para dizer um simples “eu sei”, a sua voz me trouxe de volta tudo o que a gente viveu juntos; a maior conquista, o maior amor e, que eu poderia viver mais três eternidades, sua imagem me pedindo pra ser sua naquela noite fria vai dormir pra sempre na minha memória.

                Seus cabelos cresceram, estão mais claros e tinha cara como se me chamasse pra perto deles. Sua barba raspada dizia que eu nunca tinha deixado de ter uma recaída toda vez que você a rosnava no meu pescoço e que depois daquele íntimo calor do ‘eu te amo’, eu fazia de tudo pra te ter outra vez, e pra sempre.

                Mas então você deu dois passos a meu favor e não disse mais nada, fazendo com que se passassem infinitas situações de desconforto na minha cabeça. Você não era assim. Não ficava calado nenhum momento enquanto estávamos juntos e aquela foi à hora em que a situação mais exigiu um saber das minhas palavras pra não acabar de vez o que parecia estar por um triz.

                Não chovia há 41 dias, mas parecia que naquela noite o tempo não era o principal motivo para fazer minhas mãos suarem, mas que teu olhar, á centímetros de mim, me batia quando não dizia nada e prendia ainda mais a minha atenção. O céu não tinha mais estrelas e tudo parecia ter ficado calado demais á espera de alguma coisa ou apenas uma palavra para que aquele gelo pudesse ser triturado na nossa frente.

                Você se aproximou mais ainda e, sentindo minha respiração nervosa percebeu que o que eu mais queria era uma explicação, um sorriso, um ‘por que’. Porém você não me surpreendeu de tal forma. Eu estendi a mão como se pedisse resultados de tudo aquilo e foi quando um pingo de chuva se misturou com tantas esperas e, no momento em que eu retirei meus olhos dos teus, você me surpreendeu com um beijo rápido, molhado e confuso, mas que me fez delirar durante centésimos de fantasias, me retratando como era perfeito ter você e segurando minha cintura, o fez acontecer de novo, deixando tudo cair, até mesmo a chuva que parecia tão impossível naquela estação.

                 E quando eu me retomei de tudo o que tinha acontecido; você sussurrou: “Desculpa ter esperado chover.”  E eu o surpreendi: “Valeu a pena.”

                Você sorriu, me pressionou contra seu corpo e me beijou novamente, como se desejasse um futuro apenas nosso, no eterno.

                                                    YP'        12:46 hrs