
Certo dia, alguém me perguntou se
eu tinha um amor, e eu respondi que sim. Então a pessoa não perguntou mais nada
e foi embora. Eu gostei de falar aquilo, me deixou mais viva, e ao mesmo tempo mais
triste. Sem hesitar, eu voltei no mesmo endereço, e a pessoa estava tomando o
mesmo café e sentado no mesmo local, lendo o jornal diário. Eu sentei ao lado
dele, e calei. Depois de alguns minutos, ele sorriu com aquela expressão de
diversão perante o meu desespero. Depois daqueles dias, eu voltei, e depois de
vários sorrisos, avançamos pra dois cafés, dois jornais e dois sorrisos.
Mudamos de local, de dia, de expressões. Nos vimos mais vezes, muitas vezes e
quase sempre. Depois de 3 anos sem ao menos saber de onde eu vinha, ele mudou a
expressão do sorriso, e me deu uma flor. Nela havia uma pequena corda que
amarrava um bilhete, e quando eu abri estava escrito: “Pode me conceder seu
sorriso todas as manhãs a partir de agora e pra sempre?” Eu chorei, como toda
menina boba que ainda era, porque mesmo que aquela pergunta tenha me intrigado tanto, ele a usou como
forma de me ter mais vezes, e agora até o resto dos dias que suportarmos
sorrindo, os dois. E que mesmo que algo venha me duvidar e me entristecer daqui
pra frente, eu vou passar no local em que ele estava sentado pela primeira
vez, tomando um café quente e vestido naquele casado marrom desbotado que o
deixava mais charmoso. Porque foi sorrindo que o respondi, e foi ele quem
percebeu. Ele me seduziu e a cada dia me mostrava algo novo. Depois de muito
tempo, andando meio deslocados, paramos no mesmo lugar da primeira vez. E quando
eu olhei pra cima, a lua fazia reflexo no chão, e logo embaixo ele tinha
escrito “um amor, uma lua, é a nossa”. Foi intencional, foi ele, e sempre era.
Como demorei tanto tempo? E porque foi assim, inesperado? Eu só quero que não
acabe, porque está fácil viver assim, amando nas horas vagas e compondo
cantigas de consolo com a xícara de chá do lado. Ilusão.