"O vento frio chegou. Dias atrás o noticiário relatou que as frentes mais geladas dos últimos tempos iam passar por vários lugares e recomendava que as pessoas se cuidassem mais. Porém nada era mais frio que a solidão da falta de palavras de conforto de alguém que soubesse o que verdadeiramente era falta de afeto. Entrei num café e pedi algo pra tomar, de costas pra porta eu não tinha me dado conta de que a temperatura lá fora tinha caído bruscamente e começava a nevar. Paguei a conta e quando sai porta a fora meu corpo enrijeceu. Entrei numa loja de coisas antigas e havia apenas um homem com um livro nas mãos. Vestia calças de moletom e usava casaco, totalmente despreocupado com a temperatura que estava fazendo. Eu disse ‘Oi’ e ele me respondeu com um sorriso. Perguntei se ele sabia onde estava o vendedor e ele me deu de ombros. Naquele instante eu não entendi o porquê dele não falar comigo como uma pessoa normal e se passar por mal-educado. Aquilo me incomodou e eu o questionei. Ele fez uma cara triste e logo em seguida prestou atenção no atendente que fazia língua de sinais pra ele. Fiquei desajeitada e sem querer o deixe perceber. Ele pegou minha mão e apertou, me chamou pra sentar e escolheu um trecho do livro que dizia: “Não tenho palavras pra descrever a beleza dos seus olhos, mas tenho fortes braços pra te aquecer nos dias que só exigem muito carinho e chocolate quente.” Ele sorriu pra mim e uma lágrima caiu dos meus olhos. Envergonhada, rapidamente sequei e ele me beijou."
YP' 09/12/2001 12:15 hr.